14 de novembro de 2010 | 0h 00"
Livio Oricchio - O Estado de S.Paulo
A imagem de piloto de Fórmula 1 é de um homem frio, pouco adepto a deixar a imaginação fluir solta. Em geral é lógico, destemido, capaz de colocar a vida em risco a cada instante na pista. Esse perfil, não distante da realidade, sugere cidadãos indiferentes a, por exemplo, questões como superstição ou mesmo comportamentos repetitivos não explicados pela racionalidade.
Mas não é preciso se aprofundar muito nas conversas com esses profissionais para compreender que, bem ao contrário do que se pensa, a maioria foge ao estereótipo proposto aos fãs da competição mais tecnológica do mundo. O universo místico da sorte e do azar conduz seus passos intensamente antes de entrarem no cockpit dos carros.
Os quatro candidatos ao título, Fernando Alonso, Mark Webber, Sebastian Vettel e Lewis Hamilton, não se importaram nem um pouco em expor ao Estado, no circuito Yas Marina, suas "manias", conceito preferido a superstições. Como o campeonato vai ser definido no GP de Abu Dabi, essas "manias" já estão sendo levadas ao extremo. O resultado é surpreendente.
Fernando Alonso gosta de números. "Fui campeão do mundo no kart correndo com o número 14. A partir de então, busco sempre esse número." Diz realizar uma série de cálculos mentais que tem como objetivo chegar ao 14. "Vejo o número do meu quarto no hotel e divido pelo número de carros no grid, depois multiplico, por exemplo, encontro uma forma de a conta dar 14."
Tal estratégia mental não é desconhecida do torcedor brasileiro. Não faz muito tempo, o ex-jogador e técnico da seleção brasileira Mário Jorge Lobo Zagallo fazia elucubrações para se cercar tanto quanto possível do número 13. E garante que durante toda a sua carreira o número sempre lhe deu sorte.
Mark Webber se preocupa em manter antigos hábitos. "Do instante em que saio do desfile dos pilotos, domingo de manhã, até a largada, são cerca de 90 minutos. Nesse espaço faço o meu ritual", conta. "Evito conversar, a não ser com Ann (minha mulher) e meu pai. Quando paro no grid, antes da largada, saio correndo para ser o primeiro a fazer xixi e voltar correndo para o carro. Me mantenho bem concentrado."
Sebastian Vettel pede uma ajuda do alto a cada corrida. "Minha avó Margarete viajou a Lourdes (local de devoção católica à Nossa Senhora, no sul da França) e me trouxe uma medalha de São Cristóvão, santo patrono de todos que se deslocam, portanto também os motoristas. Aqui sou motorista. Ou piloto." Vettel diz que sempre passa a mão delicadamente na medalha antes das corridas.
Lewis Hamilton criou sua própria maneira de administrar a tensão. "A minha superstição é não ter superstição. Se a desenvolver, terá o mesmo efeito de não cumprir para quem as tem. Por isso, não posso tê-las. Compreendeu? Verdade!"
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